Cresce o congelamento de óvulos entre mulheres de 30 anos no Brasil. Técnica amplia o planejamento familiar e preserva a fertilidade (Foto: usertrmk/Freepik)

Nos últimos cinco anos, o congelamento de óvulos ganhou destaque entre brasileiras, com buscas sobre o tema aumentando em 80%, segundo dados do Google Trends. A prática, que cresce nos estados do Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, reflete uma preocupação crescente com o adiamento da maternidade em função da carreira e outras prioridades de vida. Especialistas apontam que mulheres próximas dos 30 anos devem considerar a técnica como uma forma de “parar o relógio biológico”, especialmente quando o desejo de ter filhos não está em um horizonte próximo.

De acordo com a Dra. Cláudia Gomes Padilla, especialista em reprodução assistida da clínica Huntington, “até os 30 anos, as mulheres apresentam seu pico de fertilidade. A partir dessa idade, ela começa a declinar gradualmente e se acentua após os 35 anos – e mais ainda depois dos 40”. Este declínio natural motivou um aumento expressivo na procura por informações sobre o congelamento de óvulos, que, segundo dados do IBGE, acompanha a tendência de crescimento das gestações tardias: entre 2010 e 2022, o número de mulheres que se tornaram mães após os 40 anos saltou 65%.

A seguir, detalhamos os principais motivos para o aumento do interesse pelo congelamento de óvulos entre mulheres na faixa dos 30 anos, segundo especialistas em reprodução.

Foco na carreira e independência para planejar a maternidade

O congelamento de óvulos permite que as mulheres mantenham o foco em suas carreiras e adiem a maternidade, preservando óvulos em sua melhor fase de qualidade. Isso amplia as chances de uma gravidez bem-sucedida no futuro, mesmo quando a idade fértil já tiver passado. “A técnica de reprodução assistida possibilita que a mulher decida o momento mais oportuno para gestar”, explica a Dra. Cláudia.

Qualidade e quantidade de óvulos são maiores aos 30

Mulheres mais jovens têm maior probabilidade de obter óvulos em melhor qualidade e quantidade. “Quanto mais nova a mulher for no momento do congelamento, menores são as doses de medicação necessárias e mais provável é que ela consiga um número satisfatório de óvulos em uma única indução”, comenta a Dra. Thais Domingues, também especialista da Huntington.

Preservação contra condições médicas

A técnica pode ser uma garantia para mulheres que enfrentam condições médicas que afetam a reserva ovariana, como endometriose, cistos, câncer, doenças autoimunes e da tireoide. “Essas condições podem afetar diretamente a fertilidade”, diz a Dra. Cláudia, que recomenda o congelamento precoce para mulheres com histórico familiar ou condições que elevam o risco de infertilidade.

Alívio da pressão do relógio biológico

Para muitas mulheres, o congelamento de óvulos funciona como uma espécie de “pausa” no relógio biológico. “Esse procedimento permite que as mulheres tenham as mesmas chances atuais de engravidar no futuro”, ressalta a Dra. Thais, aliviando a pressão de decidir entre maternidade e outras prioridades de vida.

Mais tempo para refletir sobre a decisão

O congelamento também ajuda mulheres que se sentem indecisas sobre a maternidade a tomarem essa decisão com calma, sem pressões da idade. “O mais comum é o arrependimento por não ter feito o congelamento antes. É um suporte para decidir com mais liberdade”, completa a Dra. Cláudia.

Liberdade para planejar a maternidade no momento ideal

O procedimento oferece uma independência valiosa sobre a capacidade reprodutiva, permitindo que a mulher escolha o momento ideal para engravidar e, caso deseje, a modalidade que se adapte a seu estilo de vida. Isso inclui a possibilidade de gestar com o uso de um embrião gerado a partir de gametas de um parceiro ou até mesmo recorrer à produção independente, com auxílio de um banco de sêmen.

Processo orientado e seguro

A Dra. Thais explica que o primeiro passo para quem deseja congelar óvulos é decidir sobre o planejamento familiar e buscar uma avaliação completa da fertilidade. Exames hormonais, como o antimülleriano, são essenciais para avaliar a reserva ovariana e fornecer um panorama sobre a quantidade de óvulos, enquanto ultrassons ajudam na contagem de folículos. Ela alerta que, mesmo com uma boa reserva, não é prudente adiar indefinidamente o congelamento se a intenção é engravidar depois dos 35 anos.

“A reserva ovariana é apenas uma parte da fertilidade”, reforça a Dra. Cláudia. “Outros fatores, como endometriose, saúde uterina e condições médicas, também influenciam, de forma que o congelamento é recomendado para aquelas que pensam em adiar a gravidez”.

Mitos e dúvidas sobre o procedimento

Ainda que o congelamento de óvulos tenha se popularizado, a Dra. Thais observa que há ainda muitos mitos a serem desfeitos. “Havia receios quanto a efeitos colaterais e riscos, mas com o avanço científico, essas dúvidas cederam lugar ao custo, que ainda é uma questão para muitas mulheres”. A especialista lembra, no entanto, que algumas empresas já oferecem o congelamento como benefício de saúde para suas colaboradoras, um incentivo para apoiar o planejamento reprodutivo.

A Dra. Cláudia também salienta que o congelamento de óvulos não é garantia de gravidez no futuro. “A técnica melhora as chances, mas nem sempre é bem-sucedida em uma única tentativa; é possível que mais de um procedimento seja necessário para alcançar a gravidez, especialmente em casos onde o número de óvulos congelados é menor”. Dessa forma, ela recomenda que as mulheres mantenham o check-up da fertilidade em dia e considerem o congelamento repetido caso desejem garantir um número mais seguro de óvulos.

Com o aumento no número de óvulos congelados, que em 2023 chegou a 115 mil segundo a Anvisa, o tema reflete mudanças importantes na sociedade e na vida das mulheres. A preservação da fertilidade aos 30 não apenas amplia as possibilidades de planejamento familiar, mas também empodera mulheres a tomarem decisões reprodutivas no seu próprio ritmo.

Leia também: