Estresse e maus hábitos alimentares estão entre as principais causas de crises epilépticas, alerta neurologista (Foto: Freepik)
Estresse e maus hábitos alimentares estão entre as principais causas de crises epilépticas, alerta neurologista (Foto: Freepik)

A epilepsia, uma condição neurológica crônica, afeta milhões de pessoas ao redor do mundo e pode ser agravada por fatores externos como estresse, privação de sono e má alimentação. A Dra. Elza Márcia Yacubian, neurologista e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), compartilha orientações sobre como evitar os gatilhos que contribuem para o aumento das crises epilépticas, promovendo uma rotina mais segura e saudável para quem convive com a doença.

Como a idade influencia os gatilhos para crises epilépticas?

A Dra. Elza explica que a idade é um fator que modifica a manifestação das crises. Em crianças até seis anos, por exemplo, as crises epilépticas geralmente se manifestam na forma de crises febris, desencadeadas por uma rápida elevação da temperatura corporal. Já entre adolescentes, a ocorrência de crises generalizadas, como ausências e convulsões, costuma surgir pela manhã, poucas horas após o despertar, ou em momentos de cansaço extremo.

Na fase adulta, há uma predominância das chamadas crises focais, que envolvem áreas específicas do cérebro e, com frequência, ocorrem durante o sono. A especialista acrescenta que o sono inadequado, o consumo de álcool, o estresse e hábitos de vida pouco saudáveis também intensificam o risco de crises epilépticas. “A privação de sono, a ingestão alcoólica, o estresse, o sedentarismo e a má alimentação podem aumentar a frequência das crises”, afirma a Dra. Elza.

Prevenção: como reduzir o risco das crises epilépticas?

Para evitar crises epilépticas, a neurologista recomenda que as pessoas diagnosticadas com a condição fiquem atentas a seus hábitos cotidianos. “Dormir bem, evitar o estresse e manter uma alimentação equilibrada são essenciais. Quem faz uso de medicamentos antiepilépticos também deve ser rigoroso com a rotina de medicação, pois a perda de uma dose é um dos fatores desencadeantes mais comuns”, alerta.

A Dra. Elza também destaca o papel fundamental de familiares e amigos próximos na prevenção das crises. Ela explica que o apoio e o cuidado com a regularidade na administração dos medicamentos ajudam a evitar fatores que possam comprometer o controle das crises.

O impacto do estresse e da ansiedade na epilepsia

O estresse e a ansiedade, segundo a Dra. Elza, são fatores que, apesar de pouco estudados em algumas vertentes da literatura científica, têm uma relação importante com a frequência de crises. “Uma pesquisa recente em Nova York mostrou que problemas como dificuldades de integração social, depressão e transtorno de ansiedade aumentam em até três vezes o risco de repetição de crises em pessoas com epilepsia”, ressalta a especialista. Com isso, o acompanhamento psicológico torna-se crucial.

Para reduzir o impacto emocional, métodos como terapia cognitivo-comportamental, técnicas de relaxamento e biofeedback são altamente recomendados. A neurologista aponta que essas abordagens têm foco no autocontrole e na educação sobre a condição, ajudando o paciente a desenvolver estratégias para lidar com a doença e, consequentemente, com suas crises.

A importância da inclusão social para pessoas com epilepsia

Outro ponto levantado pela Dra. Elza é a relevância da inclusão social para as pessoas com epilepsia. “O apoio de cuidadores, familiares e amigos contribui para que o paciente se sinta mais seguro e compreenda melhor sua própria condição, o que, por sua vez, ajuda a reduzir o estresse e o isolamento”, enfatiza. Ela explica que, para evitar desequilíbrios emocionais, é essencial que a pessoa com epilepsia sinta-se parte das atividades do grupo, sem restrições baseadas no diagnóstico.

Epilepsia reflexa: quando estímulos visuais e sonoros podem desencadear crises

Alguns casos específicos de epilepsia, como a epilepsia reflexa, podem ser desencadeados por estímulos visuais e sonoros. Luzes intermitentes em festas, padrões geométricos e até videogames são possíveis gatilhos para crises em uma pequena parcela dos pacientes. A Dra. Elza relembra o famoso caso no Japão, em que uma cena de um episódio de Pokémon, exibindo um intenso contraste de luzes vermelhas e azuis, levou cerca de 700 crianças ao hospital devido a crises epilépticas.

Esses gatilhos visuais e sonoros, contudo, afetam apenas cerca de 2% das pessoas com epilepsia, sendo que fatores como privação de sono e cansaço são, na maioria das vezes, os reais responsáveis pelo aumento na frequência de crises associadas à exposição a esses estímulos.

Conclusão

A epilepsia é uma condição que requer atenção não apenas dos pacientes, mas também de quem convive com eles. Fatores como a regularidade do sono, a redução do estresse e a busca por uma alimentação equilibrada são cruciais para minimizar a frequência das crises epilépticas. Além disso, o apoio psicológico e social exerce um papel significativo na qualidade de vida das pessoas com epilepsia, ajudando-as a enfrentar a condição de forma mais saudável e menos estigmatizante.

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