A obesidade infantil é uma realidade na vida de muitas famílias brasileiras. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 11,3 milhões de crianças no Brasil sofrerão com excesso de peso até 2025. Além do risco aumentado de diabetes e hipertensão arterial, a obesidade também afeta o cérebro infantil, segundo um novo estudo realizado por epidemiologistas da Universidade de Brown, nos Estados Unidos.
Pesquisadores descobriram no estudo que as crianças com idades entre 5 e 8 anos que estão com sobrepeso têm raciocínio e memória prejudicados em relação aos pequenos que estão no peso ideal. “A obesidade preocupa no mundo todo, e o Brasil está entre os principais países acometidos pela doença, que a cada dia faz mais vítima, seja em consequência de outras enfermidades por ela provocadas, ou até mesmo pela morte durante cirurgias bariátricas”, comenta a nutricionista e coach de emagrecimento Gladia Bernardi, autora do best-seller “O Código Secreto do Emagrecimento”.
O índice de obesidade é tão alarmante que a OMS já a considera uma epidemia global, principalmente entre as crianças, aponta a especialista. “A educação alimentar deve começar desde cedo, para que as crianças criem o hábito de se alimentar de forma saudável e valorizem a inclusão de frutas e legumes em seu cardápio diário. Assim, serão adultos conscientes sobre sua alimentação”, diz.
Para a especialista, hoje está cada vez mais desafiador conseguir regrar a alimentação dos filhos, e até mesmo a dos adultos, devido aos pesados investimentos em marketing feitos pela indústria alimentícia. “As crianças muitas vezes são atraídas pelo emocional, e não pela fome “, alerta Gladia.
Os 6 maiores erros em relação à alimentação infantil
Levar crianças ao supermercado
Muitos dos produtos destinados ao público infantil trazem na embalagem figuras de personagens, super-heróis e princesas. E isso, obviamente, seduz a criança, que acaba dando preferência a esse alimento, e rejeitando qualquer outro item saudável que seja oferecido. Afinal, todo super-herói é muito mais encantador que as cores de uma fruta ou de uma verdura, das comidas de verdade.
“Infelizmente, é quase impossível competir com o marketing. Por isso, além de ser necessário promover uma mudança no comportamento dos pais, já que o adulto é o responsável pelas escolhas alimentares das crianças, é preciso que evitar ao máximo incentivar os pequenos a fazerem escolhas emocionais na hora de comer. Ou seja, não expor a criança a estímulos desse gênero”, explica.
Sendo assim, uma atitude simples é, por exemplo, evitar levar a criança junto para fazer compras no supermercado. “Além de economizar tempo e dinheiro, você conseguirá direcionar suas escolhas para os alimentos de verdade”, diz.
Deixar o filho muito tempo em frente à TV
Criança precisa brincar, fazer atividades físicas e gastar muita energia. Mantê-las ativas, além de incentivar a prática esportiva desde cedo, impede que caiam na rotina e fiquem muito tempo ociosas em frente à TV, sendo “bombardeadas” por propagandas – inclusive de alimentos industrializados.
“A propaganda é a maior ativadora do sistema límbico, que é o responsável pelas nossas emoções. Assim, na hora da compra, o consumidor acredita que adquiriu aquele alimento pela razão, mas na verdade foi uma compra pela emoção. Dizer que comprou pela razão é uma forma de justificar o consumo”.
Para Gladia, se as propagandas já seduzem muitos adultos, imagine o que farão com as crianças? “Elas acreditam que realmente precisam daquele alimento, embora estejam apenas sendo estimuladas por uma mensagem de marketing”.
Manter hábitos alimentares inadequados
A criança não tem discernimento para escolher o seu próprio alimento, e é a escolha do adulto que formará o seu paladar e seus hábitos. Portanto, saber escolher o que comer, estando consciente dos malefícios que a indústria pode causar na vida cotidiana, impacta diretamente na saúde de toda a família.
“A criança se espelha no que o adulto faz, inclusive no gosto alimentar. Se ela observar o adulto optando por verduras, legumes e frutas, também vai querer ingerir esses alimentos. Agora, se presenciar os pais tomando refrigerante, comendo doces, frituras e outros alimentos pouco saudáveis, certamente irá reproduzir esse comportamento. Por isso, é importante dar o exemplo”, ensina.
Segundo a especialista, se você quer que seu filho tenha uma alimentação saudável, a mudança deve começar por você. “É uma mudança de hábito radical? Talvez, mas, se feita de maneira consciente, mudando o seu modo de pensar e de enxergar seu próprio passado, vai se tornar fácil, e os resultados aparecerão em você e na sua família”, diz.
Achar que poupá-la de comer açúcar é ruim
O adulto que baniu o açúcar da alimentação e come comida de verdade está cuidando da saúde. Já a criança que é proibida pelos pais de comer açúcar e alimentos ultraprocessados em excesso muitas vezes é vista como “coitadinha”.
Você já se deparou com essa situação? São dois julgamentos diferentes, diante do mesmo hábito. O primeiro é visto como algo positivo, como uma virtude, algo que gera prazer a longo prazo. O segundo muitas vezes é mal visto, por que os pais “impedem” a criança de viver o prazer imediato proporcionado pelo açúcar.
“O que ninguém pensa é que essas escolhas direcionam os hábitos da criança durante a vida. Se ela já cresce com o pensamento direcionado para práticas saudáveis em relação à alimentação, e aprende a lidar com prazeres tardios e mais duradouros, a comida nunca será vista como um meio de saciar uma dor ou recompensar uma frustração. O doce e os alimentos ricos em açúcar e gorduras ruins não devem ser usados como válvula de escape”, enfatiza Gladia.
Consumir produtos industrializados em excesso
As crianças são suscetíveis a aceitar tudo o que a mãe oferece no início da sua introdução alimentar. Os bebês são capazes de se adaptar para receber os estímulos do leite. Depois, aceitam sucos de frutas. O problema é que, depois dos sucos e das papinhas, algumas mães começam a dar outros alimentos que não são saudáveis – como sorvete, doces e salgadinhos industrializados.
Assim, o cérebro da criança começa a ter acesso a alimentos saborosos e tentadores, como brigadeiro, refrigerante, cachorro-quente, hambúrguer. “Essas guloseimas geram uma liberação excessiva de serotonina, e, com isso, sem perceber, a criança pode tornar-se dependente do açúcar e da gordura”, alerta.
“Quando a criança se acostuma a essa alimentação e toma um refrigerante, ou come qualquer coisa ultraprocessada, essa bomba calórica sobe para o cérebro, que marca quais os alimentos que proporcionam mais prazer e mais calorias, e começa a mandar estímulos para a criança: esqueça o leite, suco de caixinha é mais legal! Esqueça o suco, refrigerante é mais legal! E por aí vai…”, pondera.
Exagerar em frutas e alimentos naturais com açúcar
Se a criança está viciada em doces e os pais querem reduzir a quantidade de açúcar ingerido pela família, devem ter em mente que as frutas contêm frutose, que vira açúcar dentro do organismo. “As frutas com maior índice de frutose são melancia, banana, manga, melão, mamão e pera. Se gostar muito de frutas, dê preferência ao morango, kiwi, abacaxi, abacate”, ensina a especialista.
Há ainda o açúcar do leite- a lactose-, e das raízes e farináceos, como mandioca, batata, arroz, farinha de milho, de mandioca e féculas. “Tudo isso se transforma em açúcar no sangue. Os vegetais também têm açúcar, e as maiores taxas estão na cenoura, beterraba e tomate. As leguminosas e oleaginosas com menos açúcar são feijão, lentilha, ervilha, castanha, nozes, avelã e amendoim. Carnes, aves, peixes e ovos não têm açúcar”, diz Gladia.
Para a especialista, o ideal seria cortar o açúcar da alimentação, seja de crianças, seja de adultos. “Mas, como isso é praticamente impossível, o mais sensato é fazer escolhas inteligentes no dia a dia, ou seja, optar por alimentos que tenham menos açúcar em sua composição”, orienta a especialista.